O repúdio à fala do deputado estadual por São Paulo Arthur do Val (Podemos) marcou a sessão solene em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, no Congresso, nesta terça-feira (8). A presidente da sessão, senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), classificou o comportamento do político paulista como abominável e inaceitável.
Arthur do Val foi à Ucrânia em meio ao conflito com a Rússia e postou uma foto nas redes sociais no qual mostra que estaria ajudando a produzir coquetéis molotov para o combate contra os russos. Ao deixar o país, na fronteira com a Eslováquia, o deputado enviou um áudio a amigos com declarações machistas e misóginas, comparando a fila de refugiadas ucranianas à fila de uma “balada” na capital paulista. Em um trecho do áudio vazado, Do Val diz que pretende voltar ao Leste Europeu porque as mulheres são muito bonitas e “fáceis” por serem pobres.
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“É um comportamento inaceitável, um comportamento inadmissível, que precisa ser fortemente repreendido e punido. Dentro do Congresso Nacional, eu entendo que nós precisamos arrojar ainda mais a legislação para que posturas e posições como essas não se repitam na sociedade brasileira, sobretudo por quem deveria proteger a população, por quem deveria buscar e assegurar mais direitos às mulheres brasileiras”, destacou Eliziane.
Ainda na avaliação da senadora, “se não há espaço para guerras, também não deve haver espaço para o exibicionismo e para palavras proferidas com comentários sexistas”.
Na mesma linha, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) condenou a fala do deputado estadual. Para ela, enquanto o mundo assistia chocado, perplexo, sem sequer entender o que está acontecendo, ao êxodo das famílias ucranianas onde, especialmente as mulheres, as mães, as avós, com crianças no braço, precisam deixar seus lares em busca de uma nova história, sem saber para onde ir, no Brasil, a fala do político repercutia.
De acordo com a senadora, quando ainda está se tentando traduzir “o que o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia quis dizer, na língua dele, que tem denúncias gravíssimas de mulheres ucranianas sendo violentadas e estupradas por soldados russos, eis que não precisamos de tradução para entender a fala de um deputado, que na língua pátria, em português, disse que as mulheres ucranianas pobres são fáceis”, criticou.
Simone Tebet se emocionou ao ler uma carta aberta do jornalista Jamil Chade ao deputado. Na postagem, Chade destaca que a violência sexual é uma das armas de guerras usadas para desmoralizar uma sociedade.
Já a senadora Leila Barros (Cidadania-DF) usou sua fala para se desculpar com as mulheres ucranianas pelas declarações do deputado. “O machismo e a falta de empatia que ele [Arthur do Val] demonstrou com as mulheres de uma nação que está enfrentando os sofrimentos de uma guerra desonram e envergonham esse país perante o mundo. Por isso, em nome da população brasileira e desse Congresso Nacional, apresento minhas sinceras desculpas às mulheres ucranianas”, disse a senadora.
Leila Barros acrescentou que as declarações de Do Val “não refletem o pensamento da nossa gente e que comportamento do deputado não nos deixa esquecer que continuamos sendo vítimas de machismo, misoginia e violência doméstica”.
Ao desembarcar em São Paulo, no dia 5, Arthur Do Val foi questionado pela imprensa sobre suas declarações. Ele afirmou ter cometido “um erro em um momento de empolgação”.
Participação feminina
Na mesma sessão, outros parlamentares destacaram conquistas femininas ao longo dos anos e ressaltaram a baixa representação feminina no Parlamento brasileiro. “Os níveis de desigualdade entre homens e mulheres ainda são alarmantes em nosso país, e nos levam a diferentes estatísticas de violência contra a mulher, precarização do trabalho feminino e sub-representação das mulheres na política”, ressaltou a deputada Tereza Nelma (PSDB-AL), ao defender que, nas eleições deste ano, mulheres votem em candidatas do sexo feminino.
A presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, defendeu um sistema de cotas para que 50% das cadeiras políticas sejam ocupadas por mulheres. “A cota é um processo transitório para acertar uma desigualdade. E a diferença é muito grande ainda. São mais de 100 anos para a gente tentar igualar. O que é feminismo? É a igualdade entre homem e mulher. Duvido qualquer senador ou qualquer pessoa que vai ter uma filha ou uma neta não concorde que deve haver igualdade entre homens e mulheres. Uma igualdade de salário, uma igualdade de ideias”, destacou a empresária.
Edição: Fernando Fraga
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