“Bombar na TV nunca foi um objetivo para mim”, diz ator Marcelo Varzea


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Marcelo Varzea
Julio Aracack

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Marcelo Varzea  está em todas. Aos 55 anos de idade e 32 anos de carreira, o ator, diretor e dramaturgo pode ser visto em “Temporada de Verão”, na Netflix, na segunda edição de  “Aruanas”, no Globoplay, em que dá vida a um político debochado envolvido numa CPI, e em “O Mundo Curiozoo”, no Discovery Kids. Além disso, nos filmes “Pixinguinha”, “A Garota Invisível 1 e 2”,  “A Menina Que Matou Os Pais” e “O Menino Que Matou Meus Pais”, que foram lançados entre 2021 e 2022.

Mas, se você pensa que os trabalhos para este ano terminaram, informamos que está enganado. Ele está rodando a série “Rota 66”, dando sequência ao roteiro do audiovisual “Afã” e da peça “Ganância — Um Cassino de Crueldades”, e se preparando para uma participação especial em “As Aventuras de José e Durval”, nova produção do serviço de  streaming  da Globo, inspirada em Chitãozinho & Xororó, uma das duplas sertanejas mais conhecidas do Brasil.

Para falar sobre esses e outros temas, o carioca, morador de São Paulo, que tem no currículo dezenas de espetáculos — entre eles “Silêncio.doc”, “A Ópera do Malandro”, “Rock in Rio — O Musical”, “Cazuza — Pro Dia Nascer Feliz” e “Elis — A Musical”, e está à espera da estreia dos seriados  “Maldivas” e “O Rei da TV”, topou bater um papo com o site.  Confira os momentos mais interessantes na íntegra!

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Julio Aracack

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1. Há 25 anos, você fez parte da Oficina de Atores da Globo, que revelou tantos nomes significativos do cenário artístico. Qual a importância desse período em sua trajetória? 

Foi muito bacana e quebrou preconceitos. Eu me formei na CAL, no Rio de Janeiro, em 1990. A gente não queria (ou dizia que não queria) fazer televisão. Era a época dos grandes encenadores, e o naturalismo andava em baixa nas nossas metas. Assim que saí, fiz uma série e odiei. Sinceramente me senti um peixe fora d’água. Sete anos depois, fui chamado para a escola e, na sequência, entrei em “Chiquinha Gonzaga”, emendando com “Força de Um Desejo”. A Oficina, sobretudo, me deixou confiante para entrar nesse mundo da Globo.

2. Mesmo tendo feito a Oficina e com vasto currículo, também fez mais séries do que novelas. Na sua opinião, qual a relevância delas para a carreira dos atores?

Já teve a máxima importância no quesito visibilidade e em relação ao dinheiro que isso movimenta. Artisticamente, somos um país que criou gerações diante dos folhetins. Somos herança do melodrama. Esses novos formatos apresentados pelos  players  oferecem outro tipo de narrativas advindas dos seriados internacionais, que, por sua vez, beberam direto na fonte do cinema. Eu sou ator, diretor e dramaturgo. Acho interessantes as boas histórias, a provocação com o pensar do público. Sou um homem de teatro que adora fazer audiovisual, mas bombar na TV nunca foi um norte ou objetivo para mim.

3. Você atua, dirige, escreve livros e roteiros. Acha que ser múltiplo e compreender um pouco mais sobre cada função facilita o meio de campo?

Com  certeza. Em 2008 e 2009, fui assistente de direção de duas novelas. Daí vieram o trabalho como preparador de elenco, as aulas… os textos. O primeiro deles foi “Silêncio.doc”, um solo que fazia e foi indicado a prêmios, virando um dos títulos da Editora Cobogó, de Isabel Diegues. Mas, antes disso, fui produtor na extinta TV Manchete e no teatro, além de assessor de imprensa. É bacana quando a gente consegue ter diversos pontos de vista e entender, de fato, o que é uma equipe com E maiúsculo.

4. Além de cantar, participou de musicais importantes. Como analisa esse crescente mercado? Pensa em fazer mais produções assim?

É um gênero com o qual me divirto fazendo. Também é ótimo ter aquela infraestrutura funcionando, tudo pronto, a plateia sempre lotada, o salário na conta, o aplauso quente, mas, dramaturgicamente, não me desafia como ator. Como cantor, sim. Canto bem modestamente. Como bailarino, sou um pavor! Porém, esse lugar de risco e de precisão é encantador. Contudo, acho difícil ver teatro apenas como entretenimento. Existe e tem seu valor, mas as coisas que reviram a minha alma e podem provocar algum tipo de nova construção da sociedade me interessam mais. Nem tudo é feito para se distrair! Tem muita coisa acontecendo no mundo que já passou da hora de ficarmos atentos.

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5. Somando inúmeros trabalhos voltados para adolescentes, como “Malhação”, qual a sensação de conversar diretamente com esse público?

Adoro gente jovem. Em geral, a juventude é ligada ao entusiasmo. Odeio quando dizem que tenho alma jovem; na verdade, tenho alma entusiasmada! Sou um cara curioso, adoro descobrir coisas novas, estar ligado nas tendências e nos deslocamentos delas. Tenho uma filha de dezessete anos, a Maria Laura, e aprendo muito com ela.

6. Na pandemia, suas atividades prosseguiram: gravou filme e série, fez peça on-line e escreveu livros. Como foi produzir com tantas limitações? E qual aprendizado maior tirou de tudo?

Eu pensei: “Isso vai ser um horror. Vai ter muito sofrimento. Não vou sucumbir. Não vou submergir”. Naquele momento, estava todo mundo equivalente. Não tinha ninguém que estivesse na dianteira (digo isso dentro do meio artístico, apenas nesse recorte. Não estou com os olhos fechados para o governo medonho, nem para o número de mortes, fome e obscurantismo que nos ronda), então, ponderei: “Bora lá mergulhar e descobrir o que ainda não sabem fazer”. Levarei essa lição para o resto da vida.

7. Você integrou o elenco da série global “Um Só Coração”, sobre a Semana de Arte de 1922. Hoje, 100 anos depois, como analisa esse cenário no Brasil?

Importantíssimo e contraditório! Ainda hoje, vivemos sob muitas referências dadas por eles, os modernistas, e não há como negar que abriram portas e trouxeram novos pensares. Mas foi, sim, um movimento elitista branco promovido pela burguesia paulistana.

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8. Percebe-se que se mostra bastante politizado em suas entrevistas e redes sociais. Se ocupasse algum cargo público, o que faria em prol do setor artístico?

Se algum governo entender a cultura de fato como importância primordial, identidade, manifestação e memória de um povo, vai saber o que fazer. Esse tipo de valor tem sido bem mais relacionado à esquerda. À direita relacionamos o mercado. Então, que a direita olhe para o PIB, que só no estado de São Paulo é de 3,9%, desde emprego, turismo, hotelaria, gastronomia, economia informal, transporte.

9. Com mais de trinta anos de uma carreira tão diversificada, quais seus sonhos profissionais ainda não realizados?

Um contrato longo, um patrocínio para as minhas produções e um governo que volte a ter um Ministério da Cultura que funcione.

10. E quais os próximos passos?

Em primeiro lugar, votar bem! (risos). Mas vem aí o espetáculo “O Que Meu Corpo Nu Te Conta?”, com os atores e as atrizes do Coletivo Impermanente, companhia que dirijo, além de duas séries das quais ainda não posso falar. Também estou finalizando o roteiro de um longa-metragem, ao lado de Giovana Soar, John Marcatto e Marcus Soares, e estudando para montar outra peça de teatro musicado. Soma-se a isso um podcast de dramaturgia bacanérrimo que está sob segredo contratual. Muitos projetos e vários ideais. Eu sonho mesmo. E acredito que, quando me dedico a isso de maneira forte, acontece. Então, fora Bolsonaro, para terminar.

Fonte: IG GENTE

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